segunda-feira, 7 de abril de 2014

Histórias da vida real #6

"  Os problemas nascem para serem ultrapassados. Como os obstáculos.
   Gostava, deveras, de poder acreditar nisso.
   Sei que, acima de tudo, devo lealdade a mim própria, mas não consigo evitar pensar mais na que devo aos outros. Ainda que isso me aprisione.
   Ainda que me custe dizê-lo, já não sinto mais nada. Há muito tempo que já não sinto nada e não podia continuar a viver uma mentira assim. Mas sei que te devo muito e, por mais tempo que passe, vai-me custar, sempre, avançar com a minha vida e seguir em frente. Principalmente contigo como espectador ativo.
   Algo mudou. Olho para alguém de outra forma. E não gosto. Não gosto deste novo sentimento que não me traz nada de bom. Apenas paranóia, sofrimento e imaginação. Olho em frente e não vejo um futuro. Nem sequer reciprocidade, acima de tudo.
   Aproveito o sol e vejo um fantasma passar. Um fantasma que eu gostava que, um dia, finalmente, se materializasse, mesmo que eu o saiba impossível.
   É apenas a dúvida que se materializa. O querer ou não querer que isto dê em algo. E o medo. De sofrer. De voltar a viver numa ilusão. De voltar a gostar por obrigação, por rotina. De dizer que o quero apenas por dever, por saber que mereces algo mais de mim. Algo que não te posso dar.
   A vida, e o destino (talvez... se ele realmente existir), fazem-me afastar dos dois, cada vez mais e inevitavelmente, ainda que a distância eu só a queira de um. E, mesmo assim, tenho por vezes direito a um rebuçado que não sei bem a que me sabe.
   A pouco talvez.
   E as ilusões surgem. E outra vez o medo. De ser enganada. De sofrer. Quiçá agora, e quem sabe até principalmente, de que o outro lado não sinta o mesmo, como um dia eu achei que sentia. Medo de que a minha imaginação me engane, me iluda e, mais uma vez, me faça sofrer.
   E receio a tua reacção. Passou tanto e, ao mesmo tempo, tão pouco. Não sei como me irias olhar se soubesses. Com mais raiva, mais ódio com certeza. E não sei... mas acho que isso me magoa mais que tudo: mais que já não sermos amigos, mais que tudo tenha acabado daquela forma. Saber que tudo o que vivemos acabou assim, em ódio, raiva, esquecimento e irrelevância.
   Por isso não avanço. Sim, esse é mais um motivo a juntar a uma longa lista deles. Aos ciúmes, e ao maldito medo claro, e ao saber que a confiança seria difícil de construir. Mesmo assim, não deixo de o procurar, de olhar para cada canto na vã esperança do conhecimento. E se, por um pequeno milagre, isso acontece, a ignorância parece sempre o melhor papel a interpretar e sinto-me cada vez pior na minha pele, na minha sorte.
   E pronto... é o medo a toldar-me e eu a deixar, a ver e a não reagir, a não saber actuar.
   E não sei se, algum dia, serei capaz de o superar. A ele. Ao medo. Ao maldito do medo que me impede de alcançar a única coisa que realmente procuro: a felicidade.

2014-Março-10"

I'm dead in the water
Can't you see?



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