quarta-feira, 29 de outubro de 2014

"Antes tu não eras assim"

   Hoje alguém me disse: "Antes tu não eras assim.". E não era.
   Pergunto-me se ela o disse com o mesmo significado que eu retirei das suas palavras, ou se estamos em pólos opostos dentro do mesmo contexto.
   A verdade é que, apesar de eu a saber verdadeira, a afirmação me surpreendeu bastante. Talvez porque pensei que ninguém reparara, talvez porque nem eu me tinha apercebido disso até há bem pouco tempo atrás.
   Eu mudei, mas tudo muda. Todos mudamos. De várias formas, dentro de várias situações e experiências contextualizadas, tudo deixa uma marca na nossa vida, na nossa forma de ser. E é inevitável e não temos forma de o controlar.
   Não sei se aquele "Antes tu não eras assim" foi uma crítica ou um elogio. E isso preocupa-me. Não sei se aquilo em que a série sucessiva de acontecimentos a que chamamos vida me tornou me agrada. Não sei se me tornei insuportável, egocêntrica e metediça de mais.
    A única coisa que sei, e de que tenho a certeza, é que há coisas que, ao invés de mudarem, só aumentam, só se fortalecem com o passar do tempo. E só te dás conta disso demasiado tarde, quando, após um período menos crítico, olhas para o lado e a vês, mais forte que nunca, ainda indestrutível, parecendo pronta a acompanhar-te toda a tua vida.
    Olhas para o lado e apercebeste de que ela nunca te deixou. Sim, ela mesma. A melancolia.
   Essa sim não mudou, mas é impossível que alguém tenha percebido a sua presença ao meu lado. Ela é invisível e só se manifesta a mim. Para os outros ela tem outros nomes, sempre mais simples de explicar: resmunguice, mau-humor ou a usual falta de sono.
    Sim D., eu antes já era assim. Continuo a dormir mal todas as noites.


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